AUTISMO: UM PADRÃO NÃO MENDELIANO
Nos últimos 10 anos, os cientistas identificaram centenas de genes que estão ligados à causa do autismo. Tem-se observado que quando genético, o transtorno do espectro autista (TEA) geralmente resulta de alguma falha no processo do desenvolvimento cerebral, ainda no início do desenvolvimento fetal, causado por defeitos nos genes que controlam o crescimento do cérebro e que regulam a forma como os neurônios se comunicam entre si. Sendo, o autismo descrito como um transtorno que afeta a estrutura e a função dos neurônios, foi descoberto que nos afetados, estas células são mais curtas e possuem menos ramificações comparadas a pessoas normais, o que caracteriza a limitação ou ausência da comunicação verbal, capacidade de interação social e padrões de comportamento ritualizados, observados nos autistas. São classificados como transtornos do espectro autista o autismo típico, a síndrome de Asperger e o transtorno global do desenvolvimento e algumas variações.
A manifestação dos sintomas nos casos clássicos de autismo e na síndrome de Asperger ocorre antes dos três anos de idade e persiste durante a vida adulta. Cerca de um terço dos casos de autismo ocorre em associação com outras manifestações clínicas, como nos casos decorrentes de alterações cromossômicas ou que fazem parte do quadro de alguma doença genética conhecida. As doenças genéticas mais comumente associadas ao autismo são a síndrome do cromossomo X-frágil, a esclerose tuberosa, as duplicações parciais do cromossomo 15 e a fenilcetonúria não tratada.
Ainda, o fenótipo autista é amplamente variado, estudos mostram que 75% dos casos apresentam deficiência mental e 15 a 30% apresentam convulsões, ele acomete 5 de 1.000 crianças, cuja a razão sexual é de 4:1 entre homens e mulheres, porém, ainda não é descrito com clareza sobre a relação do autismo com os cromossomos sexuais. Portanto, uma combinação de heterogeneidade fenotípica e o provável envolvimento de múltiplos loci que interagem entre si dificultam os esforços de descobertas da origem destes distúrbios, e também, não corresponde a um padrão mendeliano caraterístico e é sugerido que o autismo é condicionado por herança multifatorial, ou seja, alterações genéticas associadas à presença de fatores ambientais predisponentes podem desencadear o aparecimento do distúrbio. Por outro lado, vale salientar que tudo que é hereditário é genético, porém nem tudo que é genético é hereditário, assim fica mais fácil compreender o aparecimento de indivíduos afetados e pais normais sem nenhuma alteração nos seus genomas, em poucos casos ele é hereditário, mas na maioria é causado por mutações novas no embrião.
Ademais, no mínimo 100 genes e 354 marcadores genéticos, principalmente nos cromossomos 2, 4, 7, 10, 13, 16, 19 e 22 foram avaliados quanto à associação com TEA, com múltiplos resultados positivos; e um dos principais é o gene SLC6A4, onde foi observado que a sua transcrição codifica o transportador de serotonina, que medeia a recaptação de serotonina da sinapse. O interesse nesse gene e em seus produtos proteicos deriva de um papel plausível da serotonina nos comportamentos repetitivos observados em pacientes. Também, os resultados mais animadores, são em relação ao EN2 engrailed em 7q36.3. O EN2 é um gene homeobox que regula o desenvolvimento do cerebelo, ele atraiu a atenção pelo fato de que as anormalidades do cerebelo encontram-se entre os achados mais consistentes dos estudos patológicos e de neuroimagem em TEA. Em experimentos, os ratos que expressam o EN2 mutante ou falta de proteínas exibem uma patologia cerebelar similar aos achados após a morte em algumas amostras de TEA.
Genes de desenvolvimento relacionados ao SNC, genes do sistema serotoninérgico e de outros sistemas de regulação das funções neurais, além dos genes localizados em pontos de quebras cromossômicos, identificados em pacientes com autismo, têm surgido como genes candidatos. Na região 15q11-q13 foi relatado a concordância em aparecimento do distúrbio quando ocorre essa mutação, porém, como indivíduos com alterações cromossômicas em 15q11-q13 nem sempre são autistas, acredita-se que as modificações desses genes não são suficientes para o desenvolvimento da doença. Essa hipótese reforça a hipótese do sinergismo e/ou epistasia entre múltiplos genes para originar o autismo.
Apesar de todas as discordâncias em relação aos genes candidatos para o autismo, é de extrema relevância persistir nesses estudos, pois, uma vez que conhecido os genes envolvidos, novos agentes terapêuticos poderão atuar em alvos moleculares específicos, desencadeando melhores tratamentos e proporcionando uma melhora de vida para os pacientes. Devido esse problema em apontar as mutações genéticas, o diagnóstico deve ser feito minuciosamente, por meio de histórico evolutivo e inquérito familiar a respeito das habilidades cognitivas e comportamentais. Por fim, a necessidade de mais estudos em genes considerados promissores, é de extrema valia, já que quanto mais cedo for descoberto o TEA, maiores são as perspectivas de que a pessoa com espectro do autismo tenha um melhor desenvolvimento cognitivo, psicológico, motor, social, podendo alcançar sua autonomia e independência para atividades diárias.
Referências
CARVALHEIRA, Gianna. Genética do Autismo. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000400012/> Acesso em: 18 de agosto de 2018
GIRARDI, C. Ana. Autismo: Testes genéticos valem a pena? . Disponível em: <http://www.genoma.ib.usp.br/sites/default/files/artigo_testesgeneticos_0.pdf/> Acesso em: 18 de agosto de 2018
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